Segundo Bolsoni-Silva & Marturano, o treinamento de pais é uma prática que busca, acima de tudo, sistematizar o repertório comportamental emitido por mães e pais em relação ao manejo da conduta de seus filhos, com base no princípio da educação assertiva, na medida em que abrange formas de interação não coercitivas e pró-sociais.
Trata-se, então, deste modo, da instrumentalização dos cuidadores para manejarem seus filhos de forma mais saudável e adequada, sabendo lidar com suas demandas e educando de maneira mais estruturada, não sendo, assim, tão rígidos, nem tampouco, muito permissivos.
Neste sentido, o treino de pais poderá ou não estar atrelado à terapia infantil e envolve a modificação de comportamentos através da alteração ambiental, favorecendo que os pais tornem-se agentes da mudança comportamental de seus filhos, buscando melhorar as práticas de educação parental através de intervenções cognitivo-comportamentais para transtornos disruptivos ou externalizantes (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de conduta e transtorno opositor desafiador).
Assim, geralmente, quando uma família busca auxílio profissional é, justamente, neste ponto que os pais não toleram mais a falta de obediência de seus filhos e precisam de ajuda, devido a uma situação quase que insustentável, refletida por um ambiente caótico e pela manifestação de diversos comportamentos disfuncionais.
Isto posto, no treino de pais, o entendimento geral baseia-se, a grosso modo, no fato de que a criança nada mais é do que um reflexo exato do comportamento de seus pais, então, caso o manejo parental seja bem ajustado, dificilmente o menor manifestará um comportamento mal adaptativo, exceto se ele possuir algum transtorno do neurodesenvolvimento.
Os principais objetivos do treinamento parental englobam, assim: a mudança de comportamentos disfuncionais de pais e filhos, o treino de competências para o cuidado e a disciplina do(a) menor, a segregação do afeto e da disciplina, a discussão das causas do problema de comportamento, a melhoria no clima emocional familiar, o incremento dos momentos de interação positiva, o treino, a observação e a valorização de comportamentos adequados, o desenvolvimento e o estabelecimento de regras e o ensino de maneiras alternativas à punição para o manejo de comportamentos inadequados.
Não é incomum, neste contexto, na prática clínica, que muitos casais que procuram ajuda estejam a beira de um divórcio, justamente, por falta de diálogo, respeito ou, até mesmo, consenso no que tange à educação do filho, em função de estarem estressados, focando a atenção, apenas, no comportamento negativo da criança, muitas vezes deixando passar, assim, comportamentos positivos e funcionais que poderiam ser reforçados.
De modo geral, como os pais não possuem um manual de regras para a educação de seus filhos, quando a criança apresenta um mal comportamento, as reações mais frequentes, neste caso, são ignorar, dar algo alternativo para desviar a atenção, como, por exemplo, uma tela ou castigar. Contudo essas três atitudes, em última instância, estão erradas, desencadeando, consequentemente, uma série de problemas na relação que precisam ser ajustados mediante a aprendizagem de formas alternativas de conduta.
Entretanto, quando é indicada uma intervenção psicológica, com o trabalho de treinamento dos pais?
O treino de pais é recomendado em situações muito conflitivas, com muitas brigas e desavenças, principalmente, entre o casal parental (casado ou separado) devido à motivos como: birras constantes, instabilidade de humor da criança e expressão emocional inadequada, alterações significativas no sono, dificuldade persistente do menor em seguir regras, problemas na rotina de alimentação e de relacionamento dentro e fora do contexto familiar.
Neste sentido, também, faz-se necessário, em um primeiro momento, a identificação do estilo parental predominante, reconhecido por ser um conjunto de atitudes que cria um clima emocional em que se expressam os comportamentos dos cuidadores, que abarcam práticas parentais e outros aspectos da interação entre pais e filhos, ou em outras palavras, o estilo principal vigente na criação atual da criança que, sobretudo, pode ser modificado.
Os estilos parentais foram descritos, inicialmente, no ano de 1966, por Diana Baumrind e, posteriormente, refinados na década de 80, por MacCoby, que modificou um pouco a nomenclatura adotada.
A literatura, assim, postula quatro estilos parentais: o estilo parental permissivo, caracterizado por um baixo grau de exigência e controle e alta responsividade, com muito envolvimento e afeto, o estilo parental autoritário, com alta exigência e baixa intensidade de afeto, o estilo parental autoritativo ou democrático, com altos padrões de controle e de responsividade e o estilo parental negligente, com baixa exigência e envolvimento afetivo, colocando o menor, frequentemente, em situações de vulnerabilidade.
Geralmente, embora, os genitores possuam estilos parentais distintos, contudo, faz-se necessário, na prática, conseguir um equilíbrio entre a exigência e o afeto no processo educacional, o que é, em última instância, bastante desafiador.
Neste contexto, o estilo autoritário, bastante comum, baseia-se no fato de que as demandas dos cuidadores possuem maior peso do que as da criança, através da compreensão equivocada da obediência como uma virtude, adotando, como consequência direta disso, medidas punitivas para lidar com os aspectos do menor que entram em conflito com o que é considerado correto por eles, gerando filhos invalidados que não podem discordar, sem voz e sem opinião própria.
A discordância, entretanto, para a criança é algo muito salutar e vital para a sua espontaneidade, sendo sinal de que ela consegue raciocinar sozinha, possui autonomia e, também, autoconfiança para discordar, favorecendo futuramente o seu posicionamento na vida adulta, sem medo de críticas.
As principais características de pais autoritários, assim, incluem: altos níveis de exigência com o enrijecimento de regras e limites, a comunicação unilateral, pouca afetividade, excesso de controle, imposição com foco na obediência extrema, inflexibilidade, desconsideração de opiniões divergentes das suas, baixo nível de sensibilidade, desequilíbrio de poder, irritabilidade, desconsideração de aspectos positivos do filho e adoção de medidas punitivas.
As consequências diretas de uma educação autoritária, por outro lado, manifestam-se em comportamentos da criança, expressos pela diminuição da independência, dificuldade na tomada de decisões, baixas habilidades sociais, desregulação e analfabetismo emocional, baixa autoestima, agressividade ou submissão, insegurança ou retraimento, sentimento de desamparo ou impotência, ansiedade, depressão, medo e culpa, entre outros.
O estilo parental permissivo, por outro lado, caracteriza-se por pais que exercem pouco controle sobre os filhos, com uma tolerância excessiva a comportamentos impulsivos e inadequados, com pouca ou nenhuma punição, com crianças que, em decorrência disso, passam a tomar as suas próprias decisões, tornando-se “donas de si” e sem limites.
Estes cuidadores, assim, mesclam padrões de baixa exigência com muita afetividade, frequentemente, superprotegendo os seus filhos, permitindo tudo, sem estabelecer regras e limites claros, colocando as necessidades da criança, sempre, em primeiro lugar, com excesso de tolerância a comportamentos disfuncionais, justificados pelo medo de frustrarem o menor.
Esta relação, também, é configurada por uma inversão de poder, com filhos mandando nos pais, que negligenciam a necessidade de monitorar o comportamento deles, por passarem pouco tempo com a família, devido às demandas diárias, hipercompensando isso com um excesso de flexibilidade.
As principais consequências nos comportamentos de filhos com pais muito permissivos, sobretudo, refletem-se na insegurança, no egoísmo, na imaturidade, na dificuldade de autorregulação das emoções, na baixa tolerância à frustração, no menor senso de responsabilidade coletiva, na impaciência, na irritabilidade, na maior impulsividade, na baixa independência, na dificuldade de seguir normas, na agressividade e na dificuldade de aguardar por recompensas, entre outros.
Em compensação, pais com estilo parental negligente, ao invés do que se pensa, não cometem maus tratos para com os seus filhos mas, são muito “liberais”, praticam a negligência de abandono afetivo e caracterizam-se por baixos níveis de controle e de responsabilidade, frieza, distanciamento, pouca preocupação e compromisso e por darem autonomia em excesso para envolverem-se o mínimo possível na educação e na criação, assumindo o papel de meros provedores, participando, de fato, muito pouco na vida de seus filhos.
Assim, este tipo de conduta de parentagem, acarreta em crianças com problemas no desenvolvimento do apego, estressadas, impulsivas, agressivas, com poucas habilidades sociais, com esquemas de rejeição, com prejuízos em diversas áreas da vida, com baixa autoestima, com condutas antissociais, depressão, ansiedade e com possíveis atrasos no desenvolvimento.
E, finalmente, pais com estilo parental autoritativo ou democrático, são cuidadores que estimulam a maturidade e fornecem padrões claros de comportamentos que devem ser adotados, estabelecendo regras consistentes e utilizando a repressão quando necessária. Favorecem a independência e a individualidade da criança, com uma comunicação aberta, reconhecendo a autonomia e os direitos dos filhos.
São pais que monitoram ativamente e de perto o comportamento dos filhos, contudo, sem invadir a privacidade, explorando o universo deles, proporcionando a validação emocional, o exercício da empatia e, sobretudo, estimulando a tomada de decisões.
Como consequências favoráveis no comportamento dos filhos, pais democráticos, por sua vez, promovem: a autonomia adequada, o autocontrole, a autoconfiança, a regulação emocional, a autonomia, a independência, a boa capacidade de comunicação, melhores habilidades sociais, a maturidade, maior assertividade, a responsabilidade e, consequentemente, menores índices de psicopatologias.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
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