Os transtornos de personalidade são padrões persistentes e inflexíveis de pensamentos, comportamentos e emoções que se afastam das expectativas culturais e causam prejuízos significativos no funcionamento social, ocupacional e pessoal. A compreensão desses transtornos, especialmente a partir de uma perspectiva cognitiva, nos oferece insights valiosos sobre suas origens, manifestações e estratégias terapêuticas eficazes. Neste artigo, explorarei a teoria cognitiva dos transtornos de personalidade e a aplicação da Terapia do Esquema, com foco nos processos subjacentes que sustentam esses transtornos e as abordagens terapêuticas para tratá-los.
A Teoria Cognitiva dos Transtornos de Personalidade
A personalidade é uma organização relativamente estável de esquemas, ou padrões cognitivos, que influenciam como uma pessoa percebe e responde ao mundo. Esquemas são estruturas cognitivas que organizam a forma como interpretamos os estímulos e situações ao nosso redor. Esses esquemas são fundamentais na formação da personalidade, sendo moldados desde a infância por fatores genéticos e influências ambientais.
Em indivíduos com transtornos de personalidade, os esquemas se tornam inflexíveis e são ativados de forma recorrente, muitas vezes de maneira automática e fora de controle. Isso leva a padrões comportamentais que podem ser excessivamente rígidos e inadequados a diferentes contextos, resultando em respostas disfuncionais. A principal característica desses transtornos é a persistência desses esquemas em praticamente todas as situações da vida cotidiana, o que os torna resistentes à mudança.
Perfis Cognitivos dos Transtornos de Personalidade
A teoria cognitiva distingue os transtornos de personalidade em três grupos (ou clusters) com base em características comportamentais e padrões cognitivos predominantes:
• Grupo A (Esquizofrenia e excêntricos): Inclui os transtornos paranoide, esquizoide e esquizotípico, em que os indivíduos apresentam crenças distorcidas, desconfiança extrema e distanciamento social.
• Grupo B (Dramáticos e emocionais): Engloba os transtornos antissocial, borderline, histriônico e narcisista. Aqui, os indivíduos exibem comportamentos dramáticos, impulsivos e frequentemente manipulatórios.
• Grupo C (Ansiosos e medrosos): Refere-se aos transtornos evitativo, dependente e obsessivo-compulsivo, que são caracterizados por comportamentos excessivamente ansiosos e dependentes, com um forte desejo de controle.
Cada transtorno dentro desses grupos é caracterizado por uma visão distorcida de si mesmo, dos outros e do mundo. Por exemplo, no transtorno de personalidade esquiva, o indivíduo se percebe como inadequado e incapaz, enquanto no transtorno de personalidade narcisista, a pessoa acredita ser superior e merecedora de privilégios especiais.
Terapia do Esquema: Intervenção e Tratamento
A Terapia do Esquema, desenvolvida por Jeffrey Young, é uma abordagem terapêutica eficaz para o tratamento dos transtornos de personalidade, focada na identificação e modificação dos esquemas iniciais desadaptativos. Esses esquemas são padrões profundos de cognição, emoção e comportamento que se formam na infância e se perpetuam ao longo da vida, muitas vezes se tornando disfuncionais.
Esquemas Iniciais Desadaptativos
Os esquemas iniciais desadaptativos surgem quando necessidades psicológicas fundamentais não são atendidas durante o desenvolvimento infantil, como o afeto, a aceitação, a autonomia e a segurança emocional. Esses esquemas podem ser criados por traumas, negligência ou outros tipos de frustração emocional, e resultam em crenças distorcidas que moldam a percepção do indivíduo sobre si mesmo e sobre os outros.
A Terapia do Esquema busca identificar e modificar esses esquemas, ajudando o paciente a compreender como eles afetam suas reações emocionais e comportamentais. Além disso, a terapia visa promover o desenvolvimento de estilos de enfrentamento mais saudáveis e adaptativos, substituindo as respostas disfuncionais que se originam desses esquemas.
Estilos de Enfrentamento
Ao longo da vida, as pessoas com transtornos de personalidade desenvolvem formas específicas de enfrentar os desafios emocionais, chamadas de “estilos de enfrentamento”. Esses estilos podem ser:
1. Hipercompensação (Luta): Envolve a tentativa de superar sentimentos de inadequação ou vulnerabilidade por meio de comportamentos de defesa, como arrogância ou competitividade excessiva.
2. Evitação (Fuga): Implica em evitar situações que possam ativar esquemas dolorosos, como o distanciamento social no transtorno de personalidade esquiva.
3. Resignação (Paralisação): Refere-se à aceitação passiva da dor emocional e à falta de ação frente a desafios, como visto no transtorno de personalidade dependente.
A Terapia do Esquema trabalha para identificar qual estilo de enfrentamento está sendo utilizado pelo paciente e como ele pode ser modificado para promover uma resposta mais saudável e adaptativa.
A Importância do Tratamento Psicoterápico
O tratamento dos transtornos de personalidade, especialmente os que envolvem esquemas iniciais desadaptativos, exige uma abordagem terapêutica integrada que vá além da simples mudança de comportamento. Trata-se de um processo complexo que envolve a reestruturação dos esquemas cognitivos enraizados, a modificação dos estilos de enfrentamento disfuncionais e a promoção de um novo entendimento sobre si mesmo e sobre os outros.
É importante que os pacientes reconheçam que a mudança envolve um processo doloroso e muitas vezes ansioso, pois desafiar esquemas profundamente enraizados significa questionar a identidade que a pessoa construiu ao longo de sua vida. Contudo, a Terapia do Esquema oferece um caminho para esse processo de mudança, ajudando o paciente a viver de forma mais adaptativa, menos governada por padrões disfuncionais de pensamento e comportamento.
O tratamento dos transtornos de personalidade, sob a ótica da teoria cognitiva e da Terapia do Esquema, oferece uma abordagem promissora para ajudar os indivíduos a superar os padrões de pensamento e comportamento que limitam seu funcionamento e bem-estar. Ao trabalhar com os esquemas iniciais desadaptativos e as estratégias de enfrentamento disfuncionais, a terapia não só visa aliviar os sintomas, mas também promover mudanças profundas e duradouras na maneira como o indivíduo se percebe e interage com o mundo ao seu redor.
DR. OSVALDO MARCHESI JUNIOR
Psicólogo em São Paulo - CRP - 06/186.890
Atendimentos Psicológicos On-line e Presenciais para pacientes no Brasil e no exterior.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e Hipnoterapia.
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